TEOLOGIA DO VELHO TESTAMENTO

 Resumo do Livro de A. R. Cabtree


O livro de A. R. Crabtree – Teologia do Velho Testamento, contém doze capítulos que fazem comentários sobre todo o Velho Testamento e, também, sobre outros assuntos que podem ajudar em sua interpretação, para que seja aberta uma janela de entendimento das Escrituras.
Cabtree procura mostrar um pouco dos costumes de povos antigos, relacionados com o mundo bíblico, a essência e atributos de Deus, a teologia dos israelitas, esclarecimento sobre expressões utilizadas nas Escrituras e sobre algumas doutrinas, além de procurar explicar a respeito do propósito de Deus com o povo de Israel, que alcança todas as nações.


TEOLOGIA DO VELHO TESTAMENTO


I - AS CIÊNCIAS BÍBLICAS E A TEOLOGIA DO VELHO TESTAMENTO



Com o novo conhecimento das ciências bíblicas acumulado nos últimos anos, torna-se mais complicado, difícil e importante o trabalho do teólogo referente ao estudo do Velho Testamento. As investigações históricas, arqueológicas e literárias têm esclarecido a história do Oriente Próximo.
O Velho Testamento foi produzido no ambiente histórico e cultural do Egito, da mesopotâmia e das nações historicamente relacionadas com essas terras. A cultura antiga das primeiras civilizações influenciaram nas civilizações posteriores, inclusive na cultura dos hebreus. Com exceção do reino de Davi e Salomão, os israelitas sempre foram fracos entre as nações poderosas, ficando sujeitos a elas. Apesar disso, viu a ascensão e a queda de nações poderosas, enquanto  permaneceu relativamente fraca.
Israel nasceu de um ambiente histórico de três mil anos da civilização. As nações eram politeístas, mas a religião de Israel, sob a orientação de Moisés, representou um rompimento definitivo com o politeísmo. Essa religião resultou das experiências vividas pelos israelitas com Yahweh. Os hebreus tinham certeza das suas comunicações com o Todo Poderoso, que tomou a iniciativa na chamada de Abraão, fazendo-lhe promessas (Gn 12:1-3; 17:1-27). Os escritores Bíblicos reconheceram o significado da fé de Abraão, mas deram mais importância ao concerto de Yahweh com o povo de Israel no Monte Sinai, e foi na base dessa eleição que se desenvolveu a sua religião.
Os sistemas filosóficos e as interpretações da história variam de uma civilização para outra, e de um período para outro, de acordo com a mudança dos ideais e características de culturas sucessivas. Por esse motivo, poucos filósofos e historiadores têm qualificações para pronunciar a última palavra sobre verdade ou falsidade das experiências religiosas de Israel e do valor histórico do Velho Testamento. Nesta época científica, muitos estudantes modernos estão perdendo o interesse no estudo da história. Outros reconhecem que há algum desígnio na história, mas quando se baseiam na teoria da evolução ateísta, ou confiam no ideal do progresso, a história oferece quase nada para apoiar o seu ponto de vista. Se há desígnio de uma inteligência suprema na história da humanidade, ele tem que ser descoberto pela fé. Pela revelação do Senhor aos israelitas, os eventos lhes evidenciam a finalidade divina na sua história. Assim se explica porque o Velho Testamento é história teológica e teleológica.
Há problemas críticos e históricos que a arqueologia não pode resolver. Enigmas que ficam até mais complicados à luz de descobertas arqueológicas, mas todos os estudantes reconhecem agora o imenso valor desta ciência no esclarecimento do ambiente cultural da Bíblia. A rica herança que os hebreus receberam das civilizações antigas foi surpreendente. Os textos de línguas antigas, descobertos e decifrados, ofereceram uma vasta quantidade de material sobre os princípios de organizações sociais no Oriente Próximo. As escavações em numerosas ruínas da Palestina e de outras terras em redor ajudam no esclarecimento da cronologia dos eventos da história dos povos contemporâneos dos judeus. As descobertas arqueológicas resultaram em melhor conhecimento da história de Israel, desde Abraão, tanto a história, política quanto a religião.
Certas descobertas ajudaram até mesmo no entendimento de termos difíceis da gramática e da sintaxe hebraica; no esclarecimento do paralelismo e de outras características da poesia do Antigo Testamento.; as características da poesia semítica, que podem ser datadas, ajudam também a datar alguns dos salmos bíblicos. A descoberta de manuscritos, e pedaços de manuscritos de quase todos os livros do Velho Testamento nas cavernas em redor do Mar Morto, desde 1947, oferece uma vasta quantidade de material para ajudar na verificação do melhor texto da Bíblia hebraica e esclarecimentos de alguns versículos de Isaías, enigmas dos livros históricos, esclarecendo algumas diferenças entre o texto Massorético e o da Septuaginta.
A arqueologia, esclarece sobre o ambiente cultural e religioso do Velho Testamento, explicando a cultura que os hebreus receberam dos povos antigos e de seus próprios contemporâneos, com o aproveitamento dessa cultura na produção do Antigo Testamento. Mostra também a constante luta com os perigosos ideais e práticas religiosas que prevaleceram entre os seus vizinhos. Essa convivência fez com que eles se afastassem de Javé para seguirem após os seus deuses que praticavam a imoralidade nas suas cerimônias religiosas, mas isso não diminui o apreço pela Bíblia, antes , aumenta a profunda admiração do estudante na providência divina, pois o Deus de Israel sempre os guiava novamente ao caminho certo.

Antes da Reforma, todas as partes das Escrituras eram consideradas de igual valor, sem se tomar em consideração a data, o autor do livro ou as suas características literárias. Nenhuma atenção se dava à diferença entre a prosa a poesia, alegorias e narrativa, drama e história, cerimônias temporárias e verdades eternas.
No século XVIII, surgiram novos métodos de se estudar a Bíblia. Com a aplicação das teorias do racionalismo, levantaram-se dúvidas sobre as premissas fundamentais das doutrinas teológicas da religião cristã, ameaçando minar os fundamentos teológicos ortodoxos da época. Os novos intérpretes deram ênfase à produção humana das Escrituras, levantando dúvidas sobre as datas e autores de vários livros, chegando a dizer que o Pentateuco foi feito muito depois da época de Moisés, colocando em descrédito que o Antigo Testamento houvesse alguma revelação divina. Nem todos os seguidores da nova escola crítica eram inimigos da fé, mas tinham o intuito de descobrir a verdade, mas a maioria, Infelizmente, seguia uma investigação friamente científica, sem observância devida da natureza da origem das suas verdades imperecíveis.
No século XIX, com o desenvolvimento da ciência e a promulgação da teoria Darwiniana da evolução, a Bíblia perdeu ainda mais a credibilidade, mas seus estudiosos descobriram entre as páginas que ela não foi escrita como livro científico, mas como revelação divina, e a comunicação de Deus com os homens seguia-se de acordo com a cultura e capacidade dos escritores da época de entendê-la. Não se deve ler o Velho Testamento como texto científico da história, pois se trata das experiências religiosas do povo de Israel com seu Deus.
Apesar das várias críticas literárias e históricas a interpretação dos eventos históricos que deram origem ao culto de Javé pelo povo de Israel não é modificada. Para Israel, há certeza absoluta de que Javé tomou a iniciativa no estabelecimento da sua fé, e da sua vida como o povo escolhido do Senhor.
A ciência da Teologia do Velho Testamento deixa de lado as aberrações e os conceitos primitivos condenados pelos profetas e procura apresentar os ensinos teológicos dos escritores mais esclarecidos do Velho Testamento. Reconhece os novos conhecimentos, confirmados pelas ciências bíblicas, sem entrar na discussão formal destes estudos. Aproveita-se igualmente dos resultados estabelecidos pelo estudo da crítica literária, mas não procura fixar a data da origem de cada uma das doutrinas bíblicas. A cosmologia dos escritores tem pouca importância, mas a doutrina da criação do mundo e das atividades de Deus na direção da história tem importância especial. O conhecimento do hebraico torna-se indispensável para o aprofundamento nesse tipo de estudo. É preciso estudar os ensinos dos escritores segundo sua própria norma psicológica e religiosa, reconhecendo e interpretando as experiências religiosas que são distintivas às doutrinas aos ensinos do povo de Israel. Não deve haver opiniões formadas, ou preconceitos religiosos, filosóficos ou científicos, mas o amor à verdade ajuda muito. A fé é importante pois o teólogo trata de religião e tem que reconhecer alguns fatos e fenômenos que, em geral, são irrelevantes para as ciências puramente físicas.


II – A DOUTRINA BÍBLICA DA REVELAÇÃO DE DEUS

A ciência bíblica e os estudos históricos que visam a produção dos livros do VT ajudam no esclarecimento e na interpretação da sua mensagem. Esse esforço de descobrir o ambiente cultural da época enfatiza a produção humana, mas não nega a revelação divina, pois o VT é uma obra humana, porém inspirado e orientado por Deus.

Essa comunicação com Deus e a proximidade dos Seus poderes sobrenaturais era muito freqüente entre os povos primitivos e característicos dos escritores bíblicos, porém, não apresentavam argumentos para provar essa comunicação pessoal. O hebreu não fazia, como nós, distinção nítida entre os fenômenos físicos e os fatos do mundo espiritual. Por isso, compreendia mais claramente o significado das atividades de Deus na vida e na história do homem, diferente do homem moderno. Por essa maneira diferente de se relacionar com Deus, os intérpretes modernos têm dificuldades para entender a mentalidade dos escritores bíblicos.

Os escritores bíblicos tinham uma visão de Deus como transcendente e espiritual e o homem não era réplica física do seu Criador, mas pode gozar de comunhão com Ele. Assim a mensagem da justiça divina, interpretada pelos profetas bíblicos, tem valor eterno e aplicação universal na solução dos problemas da injustiça das gerações sucessivas da humanidade.
Não há no hebraico a palavra “natureza”, pois as obras do mundo físico, para os escritores dependem absolutamente de Deus. Fica claro, em várias passagens bíblicas que Deus se revela pelas obras do mundo físico. Outras religiões reconheceram elementos e forças da natureza como deuses, mas os israelitas fiéis sempre viram atrás do mundo físico o Criador e Controlador dos céus e da terra. Por isso, é difícil encontrar no VT apoio, no sentido de que o homem, sem orientação divina, é capaz de descobrir, pelas obras da natureza, a existência de Deus. Deus é conhecido, não porque os homens, nos seus esforços intelectuais, o descobriram, mas porque Ele se revelou. Com Sua revelação, Deus confirma e aumenta o conhecimento que constantemente traz ao mundo físico as condições de preservar a vida humana e satisfazer às suas necessidades; conhecimento que tem o objetivo de levar o homem a uma vida cada vez perfeita. O Espírito opera constantemente em favor da humanidade. O seu cuidado se estende a todas as obras da criação (Sal. 145).
Deus não se revelou por completo. A mensagem de cada um dos escritores era limitada pela capacidade do autor, e pelas circunstâncias religiosas do povo da época, mas todos os mensageiros concordavam na exposição das verdades eternas da revelação divina. Há revelações de valor temporário, porém, há outras que têm importância teológica, que foram reveladas progressivamente através de seus mensageiros.
Há distinção entre revelação e inspiração:

  • A revelação é obra exclusiva de Deus. É a comunicação do conhecimento da Sua Pessoa, de seus propósitos e da Sua vontade. O homem é incapaz de descobrir por seu intelecto estas verdades divinas.
  • A inspiração é o termo que descreve, no sentido bíblico, a habilitação dos escritores que produziram os livros da Bíblia. Significa a atuação do Espírito de Deus no espírito de homens idôneos, escolhidos para receberem e transmitirem as mensagens da revelação divina. A inspiração foi limitada pela experiência, cultura e capacidade intelectual dos escritores, ou pelos seus dons, ou seja, não anula a personalidade dos escritores bíblicos, mas os fatores humanos e divinos operam juntos.


III – A DOUTRINA DE DEUS – O Conhecimento de Deus Segundo o VT

O conhecimento de Deus revelado aos homens é justamente aquele que satisfaz à fome da sua natureza espiritual. O homem não pode conhecer as coisas profundas de Deus; é impossível conhecer todos os Seus mistérios.
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Usa-se, freqüentemente, no Velho Testamento a frase “O Nome do Senhor”, “o Nome de Deus” ou “O Nome de Javé. O Nome do Senhor associa-se com o conceito da soberania e da glória de Deus. A sua vontade não se limita apenas ao homem. A Bíblia põe em relevo a glória de Deus. O fim principal do homem é glorifica a Deus, exaltando e santificando Seu Nome. Essa santificação acompanha o progresso do reino de Deus no mundo. Deus repreende a idolatria profana de Seu Nome. O propósito de Deus, “por amor de Seu nome” é revelar-se a todas as nações do mundo como o único e verdadeiro Deus.
Deus é chamado, no Velho Testamento, por uma variedade de nomes, de acordo com o estilo dos escritores e com as situações em determinadas épocas da história. Elohim e Yahweh são os nomes mais usados. Usa-se Elohim, que é sinônimo ou plural de El, como o nome do Criador de todas as coisas. As derivações de El são muitas: Eloach (forma singular aumentada de El, usada em poesias), Elyon (Deus altíssimo, possuidor dos céus e da terra), El Shaddai (Deus da montanha).Quando se refere às relações do Senhor com as nações, ou às suas relações cósmicas, mas quando se trata das relações do Senhor com o povo de Israel, ou quando se refere às atividades do Senhor na história deste povo, do seu concerto, usa-se o nome Yahweh, nome inefável que os israelitas deixaram de pronunciar e que foi substituído pelo nome Adonai, que significa Senhor; baseia na associação de Deus com trovões e relâmpagos; o escritor liga o nome com o verbo hebraico hava, que quer dizer “ser” ou “haver”. É formado da primeira pessoa do singular do imperfeito do verbo ser, significa: EU SOU. Deus também é chamado por títulos.
Deus se manifesta de várias maneiras. Quando um escritor do Velho Testamento se refere a palavra “vento”: “rurah”, é difícil analisar os seus vários sentidos. Geralmente é sinônimo de poder, da vida e do Espírito de Deus, que é o próprio Deus, mas pode ter a idéia de vento forte, violência, nos trechos onde se usa a palavra no sentido do assopro de Deus. Através do Seu Espírito, Deus guia os homens, estando dentro deles, ou fora. Também é a fonte de vida; o espírito do homem lhe é transmitido pelo Espírito de Deus. O Espírito relatado no Velho Testamento não tem o mesmo sentido do Novo, pois a doutrina do Espírito Santo, como a Terceira Pessoa da Trindade, é um desenvolvida no NT, de acordo com a experiência cristã. Tem as suas raízes nas experiências do povo de Israel, sem ser assim entendida pelos escritores do Velho Testamento.



IV – A ESSÊNCIA E OS ATRIBUTOS NATURAIS DE DEUS

Espírito - Jesus declarou: “Deus é Espírito, e importa que os que o adorem o adorem em espírito e em verdade”. Por esse motivo Deus proíbe a representação de Sua imagem por qualquer imagem material;
Deus vivo – Encontra-se o conceito do Deus Vivo em todas as partes da revelação divina e fonte de todas as formas de vida.
Eterno – a existência própria de Deus subentende-se no nome Javé, “Eu Sou”.
Imutável – Apesar de no AT, existir várias declarações isoladas indicando mutabilidade, as experiências religiosas, através da longa história, os profetas, salmistas e homens piedosos aprenderam que o Senhor, na sua própria natureza, não muda, sendo perfeito nos seus atributos e na sua vontade; a mudança da sua natureza para a menos perfeita contradiria a sua perfeição.
Poderoso e Sábio – As atividades do Senhor testificam seu poder, bem como da sua sabedoria. Os israelitas experimentaram a operação do poder do Senhor na sua vida pessoal, na vida das suas famílias e na sua vida nacional. A doutrina da criação apresenta-se no Velho Testamento, especialmente na segunda divisão de Isaías, como parte integrante da revelação do poder de Deus.
Único – Os israelitas, depois de experiências cruéis, como a escravidão, e experiências maravilhosas, como a liberdade, sabiam que esta fortaleza que era Deus não era uma força qualquer, mas um Poder peculiar, único, Supremo.
Personalidade – Os escritores inspirados percebem que Deus tem os atributos que caracterizam as pessoas humanas, e que os tem em medida suprema, sem as imperfeições humanas. Deus, como Pessoa, Tem outros atributos pessoais que não pertencem ao homem.


V – OS ATRIBUTOS REDENTORES DE DEUS


A Bíblia também revela a natureza de Deus. A Santidade descreve a Sua própria natureza, portanto, abrange todos os atributos de Deus. Os escritores bíblicos chegaram a reconhecer a claridade e a pureza da Deidade que exclui a comunhão com tudo que é mau ou perverso. Quando Isaías recebeu a visão da santidade do Senhor, foi-lhe revelado o terrível abismo que o separava, juntamente com o seu povo, de Deus: o pecado. Vejamos detalhadamente os atributos redentores de Deus.
Santidade – A Santidade de Deus significa a sua separação do universo, no sentido de que ele é absolutamente superior e independente de tudo que criou. É, portanto, impossível fazer uma imagem de Deus. Santidade designa a divindade, que pertence somente ao Senhor.
Justiça – A justiça do Senhor é o atributo de perfeição moral que caracteriza a sua santidade, a sua própria Natureza, a Sua Divindade. Os seus pensamentos, os seus propósitos, os seus motivos e todos os seus atos são absolutamente retos e perfeitos. O padrão divino da justiça é tão eterno como o próprio Deus. Ele não pode mentir ou fazer qualquer outra injustiça.
No caso de Israel obstinado e revoltoso contra a vontade divina, o Senhor castigou o seu povo pelo cativeiro, destruiu a nação política e levantou o restante espiritual para cumprir a missão messiânica do povo escolhido, e fez tudo isso segundo a suprema justiça das suas atividades na vida do povo. Assim Israel aprendeu a verdade profunda de que a justiça do Senhor opera através de todos os mistérios da sua providência na história.
Redentor – O Senhor não limitou as suas atividades redentoras à salvação do seu povo dos perigos da opressão social e política. A salvação espiritual de Israel, bem como o seu livramento político, são conseguidos pela justiça de Deus.
Amor – Quando é feito um estudo cuidadoso do amor de Deus no VT, baseado no conhecimento do hebraico, pode-se entender melhor a plena revelação deste amor na Pessoa e nos ensinos de Cristo.
A Palavra hebraica “aheb” pode significar todas as qualidades de amor e de gosto e é muito usada no sentido religioso;
“Raham” significa compaixão, piedade, misericórdia;
O VT diz que Lia era odiada, mas esse verbo em hebraico “sane” nem sempre representa ódio ativo e violento. Nessa passagem mostra que a pessoa amada é simplesmente a preferida, enquanto que a “odiada” é a não preferida.
A plavra “hesed” designa o seu amor fiel no cumprimento absoluto do concerto que fez com Seu povo escolhido.


VI – A ORIGEM, A NATUREZA E O DESTINO DO HOMEM

A Bíblia revela a origem do universo. Não há outra obra mais rica que expõe a origem do homem e do universo. O VT ensina a unidade da raça. Como o povo de Israel se originou de Abraão e se multiplicou por Isaque e Jacó, e as suas gerações sucessivas, assim também todas as nações do mundo são de um só sangue. Depois do dilúvio, todos os povos e nações se originaram de Noé. As famílias dos três filhos de Noé se separaram, e assim, começaram o desenvolvimento de todos os povos que estão na face da terra. Com a confusão das línguas, os homens foram se separando um dos outros, criando, assim, problemas de desentendimento, desconfiança, e até inimizades e guerras.
A palavra Adão significa, originalmente, o homem na sua coletividade, ou um ser humano. A significação da entidade social verifica-se, segundo o VT, na íntima relação do homem com seu grupo. O seu caráter é estimado pelo caráter da família e até da sua geração. A pura individualidade não se encontra no VT, porém, ao mesmo tempo que a solidariedade do povo é importante para o grupo inteiro, o indivíduo em si, não é apenas um membro do seu grupo sem qualquer responsabilidade pessoal; mas responde pelos seus atos individuais: “O Senhor é misericordioso, e compassivo, tardio em irar-se, grande em amor constante e fiel e é verdade, que usa de benignidade em milhares, perdoando a iniquidade, a transgressão e o pecado, mas de maneira alguma terá por inocente o culpado” (Ex 34:6,7)
O homem é feito de carne (bassar) e espírito (ruan). A palavra espírito no VT, quando é relacionado ao espírito do homem tem vários sentidos. Muitas vezes quer designar o temperamento, o impulso ou a disposição do homem. Ex.: “espírito de ciúmes (Num 5:14-30). Ruan diz respeito ao fôlego de vida e tem quase o mesmo sentido de naphesh (alma); a ruan é que volta para Deus quando o homem morre. A palavra leb ou lebab significa coração, mente, inteligência, vontade, consciência, íntimo. É difícil fazer distinção exata entre nephesh, ruan e leb do homem, mas isso não quer dizer que as palavras são sinônimas, a não ser em sentido muito limitado. As palavras kelayoth (rins), mayim (entranhas) e kabad (fígado) são como órgãos da emoção dos sentimentos. Considerando que a alma (nephesh) é a vida, o resultado da união do espírito (nishmath hayi) e o corpo, os nossos termos modernos “corpo e espírito” abrangem os elementos integrantes do homem bíblico. Não há diferença essencial entre alma e o espírito do homem. Como diz Davidson: “O espírito e a alma do homem não são coisas diferentes, mas a mesma coisa sob aspectos diferentes”.
Apesar da Palavra de Deus dizer que o homem foi feito a imagem e semelhança de Deus, teólogos afirmam que essa semelhança concorda com o teor dos ensinos bíblicos sobre a dignidade e a responsabilidade do homem e pelo fato do espírito do homem ter vindo de Deus, porém, o homem é muito diferente de Deus, na sua natureza espiritual, mas como criatura espiritual, ele é capaz de gozar comunhão com Deus, porque o seu espírito tem afinidade com o Espírito do Criador, a afinidade que lhe foi concedida no ato da criação. Assim, o VT reconhece que o homem foi criado para Deus, e que não pode ser feliz sem achar descanso no seu Senhor.
O Homem do VT reconhece que Deus é espírito e podia assumir a forma de anjo ou de homem para se apresentar aos patriarcas e outros, todavia, o que importava era a mensagem transmitida. A mensagem também era transmitida através dos profetas. Eles se reuniam para decidir causas importantes em uma Assembléia Legal, composta de príncipes, anciãos ou oficiais reconhecidos. Foi numa dessas reuniões que decidiram sobre Jeremias, que anunciava a destruição do templo, se o povo não se convertesse de seu mau caminho. A decisão foi que ele não seria réu de morte, pois falava em nome do Senhor (Jr. 26:16). Aqui vemos que o povo, apesar de não estar se comportando como deveria temia a Deus. A denúncia dos profetas sobre a avareza, hipocrisia, opressão aos pobres, e outros pecados do povo mostram a ética bíblica. As iniquidade dos israelitas seriam castigadas severamente.

VII – A DOUTRINA DO PECADO

O conceito que qualquer pessoa tem do pecado varia de acordo com seu entendimento do caráter de Deus e da natureza do homem. Entre os povos primitivos, o pecado era considerado simplesmente como ofensa contra Deus, e por algum tempo alguns israelitas tiveram esta mesma opinião. Mas quando uma ofensa foi cometida voluntariamente contra Deus foi reconhecida, sem dúvida, como violação do sentido ético ou moral do homem. No entanto, uma violação involuntária da lei moral era punida, bem como as ofensas deliberadas. Quando chegamos aos profetas literários, encontramos a moralização completa do conceito do pecado. Os profetas deixavam de lado os ritos e as cerimônias religiosas, ou os tratavam como de menos importância. Proclamavam que Deus não exigia sacrifícios e holocaustos, mas obediência à lei moral O sacrifício oferecido como substituído da justiça era abominação perante o Senhor. Os profetas ensinavam que era o próprio pecador que, no seu egoísmo, na sua arrogância e no seu espírito revoltoso contra o Senhor, trazia a ruína sobre a nação. Os profetas também condenavam o pecado social, pois eram ofensas a Deus, e contra o bem-estar do povo escolhido. Como a violação da justiça, o pecado é igualmente a maldição do pecador. De acordo com o Apóstolo Paulo, o pecado originou-se com a queda de Adão. A conseqüência do pecado são desastrosas, tanto para a pessoa, quanto para toda a humanidade em conjunto. É a causa principal do sofrimento humano.


VIII – O PROBLEMA DO MAL

A própria consciência do homem não concorda com a ideia de tratar igualmente o malvado e o bondoso. Isso apagaria por completo o conceito moral do universo.
Quando estudamos o problema do sofrimento no Antigo Testamento, temos que reconhecer que é sempre relacionado com as doutrinas básicas da teologia, pois a relação íntima entre Israel e Deus, o povo escolhido sentiu-se diretamente responsável por qualquer sofrimento que lhe sobreviesse, portanto, não houve o problema filosófico do sofrimento para aqueles que conhecem a Deus, porque o povo recebeu os males que lhe caíram como punição dos seus pecados, apesar dos mistérios que não pudesse entender. O povo se desviava de Deus quando desprezavam e esqueciam os ensinos da justiça devido a eficácia do sistema sacrificial, mas Deus não queria ofertas e holocaustos, antes prefere a obediência; Deus mandava Seus profetas para falar da Sua vontade e da Sua justiça. Os profetas Jeremias e Ezequiel reconheceram a justiça da punição do povo escolhido, apesar de Jeremias ter perguntado: “Por que prospera o ímpio? Por que vivem em paz os que procedem aleivosamente?” e chegou a sentir que Deus não o tinha tratado com Justiça: “Por que é perpétua a minha dor, e incurável a minha feria, recusando a ser curada?”, mas essas queixas não representam o verdadeiro espírito do profeta. Habacuque, sim, levantou a questão sobre a justiça de Deus no seu modo de tratar com as nações. Podemos dizer que não há dúvida que ele representa Judá como o povo de que estava sofrendo a injustiça às mãos dos estrangeiros; sua resposta, em resumo é que a justiça triunfará finalmente.
Os Salmos, que apresenta a vida religiosa de Israel, escrito por várias pessoas, descreve a profunda tristeza, e até desespero dos autores. Eles reconhecem que, às vezes, os ímpios prosperam e os inocentes sofrem, mas por fim, sabem que o consolo dos filhos de Deus é a vida perto de Deus e o fim dos ímpios será a destruição. Não há nos Salmos, nem na Bíblia inteira, uma solução formal para o problema do sofrimento. Mas descobrimos que o sofrimento pode ser uma prova de fé, que na providência de Deus eles podem ter valor disciplinar e redentor.

IX - A SALVAÇÃO NO VELHO TESTAMENTO

Qualquer pessoa que levasse uma nação à vitória era chamada salvador na época do Velho Testamento, porém, quem dava forças e dirigia o homem era Deus e eles reconheciam isso. O Senhor Javé apresenta-se como Salvador logo no princípio das suas relações com as tribos de Israel, desamparadas e desesperadas nas garras dos seus opressores e após libertá-la da escravidão do Egito, revelou que aquele povo havia sido escolhido como seu povo sacerdotal entre todas as nações do mundo.
Os povos antigos achavam que seus deuses tinham por obrigação preservar a nação, pois senão, não existiriam. Provavelmente essa teoria não existia dentre o povo de Israel, pois os profetas falavam da fidelidade do Senhor nas promessas do concerto, porém explicam as conseqüências terríveis da ingratidão, da injustiça e da infidelidade do povo. Até certo momento Deus olhava para a nação como um todo, mas devido a infidelidade de Israel, a esperança foi firmada naqueles que eram fiéis ao Seu concerto.
O povo de Israel foi vacilante na fidelidade ao Senhor. O profeta Jeremias reconhece que o amor de Deus é superior a todas as coisas, mas também reconhecia a necessidade do castigo dos infiéis, mas na sua angústia, o profeta tinha o privilégio de olhar além do cativeiro até a restauração dos fiéis; reconhecia a necessidade, também, de um novo concerto .
O pecado interrompe a comunhão entre o homem e Deus, e afasta o pecador da presença de Deus. Com o conhecimento mais claro do caráter de deus, e da dignidade do homem, desenvolveu-se um entendimento mais profundo da natureza do pecado. Chegou-se finalmente a entender que o verdadeiro arrependimento do pecador, que envolve o ódio ao seu pecado e a firme determinação de abandoná-lo, era necessário no preparo do coração para receber o perdão divino e regozijar-se de novo na comunhão com Deus. Entendeu-se que o sacrifício era apenas simbólico do espírito reto que devia acompanhar a oferta. A graça de Deus operava por intermédio do sacrifício para aliviar o pecador do sentido da culpa e manter a comunhão com o Senhor.
O concerto de Deus com os Israelitas representava a relação entre eles. A Lei cerimonial foi um meio de separar o povo de Israel para o serviço do senhor. Todos os homens da nação sacerdotal tinham o privilégio de se aproximar de Deus, porém, o privilégio deles não interferia no culto nacional celebrado no santuário central. Os sacerdotes tinham que ter o caráter semelhante ao do Senhor, mas isso não podia ser perfeitamente realizado, mas era representado simbolicamente.
A tribo de Levi, mais especificamente, os filhos de Arão, foi santificada para o serviço do senhor no tabernáculo, porém, o único que entrava no Santo dos Santos era o sumo-sacerdote, mas somente uma vez por ano. É importante salientar que o sacrifício por si mesmo, não tinha nenhuma eficácia, mas simbolizava o arrependimento do ofertante. A oferta tinha o efeito de aliviar o espírito do ofertante do sentimento de culpa.
Já os profetas apresentaram novas revelações sobre a santidade, a justiça e o amor de Deus. Ele exigia a prática da justiça entre Seu povo. Com o conhecimento mais profundo do caráter de Deus, aumentou-se o entendimento do valor da dignidade moral do homem individual e da vida humana em geral. Assim o perdão do pecado e a pureza do coração tinham valor essencial e dignidade própria. Esse concerto foi feito com o povo de Israel, mas a intenção de Deus era preparar o caminho para a fundação do reino de Deus no mundo inteiro. O concerto só tinha valia para aqueles que o aceitavam voluntariamente as suas condições. Da mesma forma é a segunda aliança.


X – O REINO DE DEUS


A fé de Israel rompia por completo com todas as formas do paganismo antigo. Era monoteísta. A revelação do Senhor é vista em toda a longa história do Velho Testamento, mostrando evidências do milagre da graça do Senhor na redenção e na escolha de Israel para cumprir o seu propósito no estabelecimento e no desenvolvimento do seu reino no mundo.
Israel vivia sob governo Teocrático. O livro de Juízes explica como as tribos, sem autoridade central, mantiveram a sua existência como povo. Em templos de perigo, Deus levantava um homem para libertar o povo; ele ganhava prestígio e recebia o título de juiz, mas nem por isso estabelecia-se como rei sobre o povo. Saul, escolhido pelo povo como rei, foi o primeiro rei de Israel; ele foi muito importante para o desenvolvimento do reino de Israel, mas não superou, porém, Davi foi reconhecido como o ungido do Senhor, e governou como representante de Deus. Capturou a Jerusalém dos jebuseus, e ali estabeleceu a capital política e religiosa de Israel, trazendo a arca do Senhor para a cidade como o símbolo da presença do Senhor. Organizou sabiamente o seu governo, desenvolveu o exército e com entusiasmo e poder entrou na campanha de conquista, que finalmente resultou na extensão do seu império desde o golfo de Ácaba, no sul, a´te a Síria central, no norte. Salomão, que reinou depois de Davi, aproveitou-se das novas condições e teve estratégias para o enriquecimento de Israel, porém, permitiu que entrasse idolatria na corte e também centralizou o poder em suas mãos. Assim, a teocracia, preservada no princípio do reinado de Davi, gradualmente deu lugar à dinastia, acompanhada por mudanças radicais na sociedade nômade do povo do concerto.
O sentimento contra a monarquia, representado por Gideão, Jotão e Samuel, nunca foi completamente apaziguado. Persistia a convicção de que a monarquia não concordava com o destino verdadeiro de Israel. A história de Israel revela a antipatia e a oposição de muitos reis contra a orientação profética que procurava manter a fidelidade do povo ao Senhor. No tempo de Salomão a sociedade ficou corrompida, mas desta vez foi para morte. A religião do Reino do Norte foi dominada, desde o princípio, pelos reis e sujeitada aos interesses do Estado, quase divorciada da moralidade, mas a religião formal, associada com a prosperidade, era muito popular. Ajuntava-se o povo aos santuários com os seus sacrifícios para ganhar os favores divinos. Amós profetizava um desastre sobre Israel. Após 25 anos depois O Reino do Norte caiu. Oséias também repreende a Israel, porém, fala de concerto, assim como Jeremias e Ezequiel.
Oséias e Amós reconheceram que o reino de Israel estava destinado à destruição. Eles seriam escravizados pela Assíria como foram no Egito. A profecia de Oséias relaciona-se com uma experiência pessoal com sua esposa que lhe foi infiel. Deus se divorciou de Israel como Oséias se divorciou de Gomer, mas se o amor de Oséias foi suficiente para perdoar sua esposa traze-la sua esposa de volta, quanto mais o amor de Deus para com Israel. No exílio, Israel aprenderia de novo a pureza e a fidelidade da sua juventude e repousaria novamente com o Senhor.
A esperança do reino de Deus na terra repousada com Judá, porém, ela ficou enfraquecida política e religiosamente com a infidelidade do rei Acaz, que tinha vendido a liberdade do povo ao rei da Asíria pela promessa de “libertá-lo” do poder imaginário de Rezim e Peca. Isso resultou na entrada do paganismo no templo de Jerusalém e encorajou a prática das abominações dos estrangerios, estimulando no sincretismo da religião de Israel com o paganismo da Assíria.
O profeta Miquéias denuncia os pecados de Judá quase tão severamente como Amós tinha condenado a corrupção de Israel e profetiza sobre a destruição do templo. A morte de Acaz trouxe ao governo seu filho Ezequias, trazendo esperanças para os fiéis de Judá. Ezequias foi feliz em receber de bom grado os sábios conselhos e a orientação ajuizada do grande profeta Isaías. Ezequias, apoiado por Isaías, instituiu o movimento de purificar o seu povo das influências pagãs, tirando os alto, quebrando as estátuas, fazendo em pedaços a serpente de metal e centralizando o culto em Jerusalém e ainda convidou os israelitas nas províncias da Assíria para celebrarem a Páscoa ao Senhor de Israel.
O povo queria se rebelar contra a Assíria, porém, Isaías não concordava. Como estadista ele entendeu a futilidade de alianças políticas e revoltas de pequenas províncias contra impérios poderosos. Andava nu, durante três anos, para servir de sinal contra a aliança com o Egito para livrar-se do poder da Assíria. Para ele, o socorro do Egito era uma ilusão. A única esperança para Judá era o caminho estreito da fé. É a mesma mensagem que anunciou a Acaz: “se não crerdes certamente não sereis estabelecidos”.
O povo de Israel não ouviu o mensageiro do Senhor e uniu-se com províncias contra a Assíria. Houve grande genocídio. As cidades fortificadas foram tomadas e esmagado exércitos do Egito e do rei Ezequias. Apesar de tudo, Deus não censurou o rei e o povo, mas sua mensagem através de Isaías era de coragem e confiança: “Pois defenderei esta cidade para a salvar, por amor de mim e por amor do meu servo Davi”. Foi nesse tempo difícil que a esperança messiânica do povo do Senhor nasceu. Isaías explicou que o povo estava sofrendo da mesma corrupção que destruiu o Estado de Israel, e que estava enfrentando o mesmo perigo de exterminação. Deus é santo e opera na história em perfeita harmonia com os atributos de santidade, justiça, poder e amor que são imutáveis. O povo estava sofrendo por sua desobediência. Deus escolheu Israel para ser seu povo, e lhe deu o concerto do Sinai. O povo aceito voluntariamente as responsabilidades . O fracasso do povo no cumprimento das usas promessas importou na rejeição do concerto. A soberania do Senhor não é limitada pela fraqueza daqueles que deixam de cumprir as promessas de fidelidade, mas o Senhor, na sua soberania, é limitado nas atividades do seu reino, por seus atributos de santidade, justiça e amor.
Isaías não acreditava na destruição completa de Judá. Havia em Judá, homens e até reis como Ezequias e Josias dispostos e prontos para responder à graça salvadora de Deus, apesar dos sofrimentos que porventura tivessem que enfrentar nos perigos que a nação defrontava. Esta confiança inabalável do profeta no restante fiel do povo escolhido baseia-se no seu conceito do Santo de Israel e no conhecimento do seu povo. O Estado de Judá poderia cair, como tinha caído o Estado de Israel, mas o profeta ainda confiava firmemente que o propósito de Deus na eleição de Israel seria realizado. O reino de Deus seria estabelecido finalmente pelo restante fiel do povo escolhido. A fé na providência divina é fortalecida com o entendimento da história e das Escrituras do povo de Israel.
No tempo de Amós, o povo do Reino do Norte desejava o Dia do Senhor, mas eles não compreendiam que isso significava o dia do Juízo de Deus. O povo de Israel pensava que o Dia do Senhor significava o estabelecimento do seu governo benéfico sobre o povo escolhido. Joel declara que o Senhor se assentará no vale de Josafá para julgar as nações, mas o Senhor será o refúgio do Seu povo.
Deus pôs sobre Jeremias uma responsabilidade muito grande, além das injustiças e perseguições que sofrerá às mãos do seu povo. Ele foi purificado no fogo do sofrimento e heroicamente foi consagrado à sua dura missão para compreender as fraquezas religiosas e as falsas esperanças do seu povo que não podia perceber a agonia mortal da sua nação. Graças às pregações de Ezequiel e Jeremias, a fé de Israel mostrou-se suficientemente forte para sobreviver à mais terrível catástrofe. Para demolir as falsas esperanças do povo, Jeremias tinha que expor a incompatibilidade da injustiça de Judá com a justiça de Deus. Explicou que o verdadeiro culto ao Senhor é espiritual, e assim, não depende do templo, nem de qualquer lugar como Jerusalém. Graças a pregação da ternura e compaixão do Senhor, pelo grande profeta do exílio, a esperança de Jeremias foi realizada. A fé de Israel demonstrou que tinha poder de sobreviver à destruição nacional e à humilhação do exílio babilônico. A sobrevivência da sua fé foi devida principalmente ao seu conceito do Senhor o Deus da história. Segundo este conceito, Deus nunca pode ser derrotado. O período do cativeiro foi uma época espiritual na história de Israel. O reino de Deus será completamente vitorioso no fim da história. Apesar de todas as forças que operam contra o seu progresso no mundo, o Seu reino será estabelecido no mundo inteiro.


XI – A ESPERANÇA MESSIÂNICA


O termo messiânico pode ter duas significações; uma refere-se à idade messiânica, outra à vinda pessoal do Messias. A esperança messiânica VT significa a crença na vinda do reino ideal de Deus. Os escritores do Novo Testamento apresentam interpretações para mostrarem o cumprimento da esperança messiânica na pessoa de Jesus Cristo. Os vários ramos do cristianismo, com poucas exceções, têm seguido essa interpretação, mas os judeus e os muçulmanos apresentam interpretações diferentes destas Escrituras. Assim como há uma vasta diferença de opiniões a esse respeito. Alguns radicais insistem no seu desenvolvimento no período do exílio, juntamente como a literatura apocalíptica. Dizem que a expectativa messiânica se originou com Ezequiel. Ele desenvolveu a escatologia do VT da qual surgiu a literatura apocalíptica. Segundo esta teorira extravagante, todas as passagens messiânicas nos livros escritos antes do tempo de Ezequiel são interpolações. Mas essas teorias não podem ser levadas em consideração, pois a eliminação destes excertos como interpolações resultaria em incrível mutilação da Bíblia. O VT relaciona-se do princípio ao fim, à esperança messiânica.
Nem todas as Escrituras que tratam do problema do pecado estão relacionada diretamente com a esperança messiânica. Na revelação progressiva do propósito eterno de Deus, encontram-se numerosas promessas da vitória final e completa sobre o pecado, que será alcançada pelas atividades constantes de Deus na história, de acordo com suas promessas, santidade, amor e justiça.
Nem todos os profetas tinham a mesma compreensão da natureza do pecado nem dos atributos de Deus, mas todos eles repreenderam severamente a perversidade de Israel, e a falta de cumprimento dos mandamentos do Senhor. As repreensões trouxeram poucos resultados, mas os profetas não perderam a esperança. Sabia que Israel era merecedora do castigo do cativeiro, vergonha e humilhação por causa da sua infidelidade. O castigo veio sobre Israel para que ela voltasse a seguir o caminho do Senhor. Juntamente com as denúncias da infidelidade de Israel é proclamada a salvação divina, na condição de arrependimento e fé. Com o restante fiel se estabeleceria o Novo Concerto. Assim como Iavé se revelou antigamente ao Seu povo no Seu poder de Redentor, e o trouxe para si, outra vez, pela sua própria mão, como bom pastor, traria de longe as suas ovelhas espalhadas, e as recolheria para si. A salvação messiânica é puramente espiritual. Através do Espirito que seria derramado sobre a terra, o homem poderia viver em harmonia com o seu Deus. Essa promessa não seria somente para Israel, mas para todas as nações, mas Israel é portadora da revelação do eterno propósito de Deus.
O messias, na verdade, é mais do que os Israelitas pensavam. Em Isaías está escrito: “Portanto, o Senhor mesmo vos dará um sinal. Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e lhe dará o nome Emanu El. Ele comerá manteiga e mel, e quando souber rejeitar o mal e colher o bem, será desolada a terra ante cujos dois reis tu tremes de medo”. Convém mencionar três fatos importantes: 1º. A palavra há’alma, “a virgem”, tem o artigo definido, um fato que os tradutores geralmente deixam de ver ou tomar em consideração. Parece, então, um termo que podia ser reconhecido pelos contemporâneos do profeta. A declaração “a donzela dará à luz um filho” encontra-se em um dos textos de Rás Shamra, usada aparentemente com referência ao nascimento divino ou real. 2º. O conceito “Deus conosco” era usado no culto como no Salmo 16: “O Senhor dos exércitos está conosco (Smanu)”. 3º. Outro fato interessante é que manteiga e mel são conhecidos entre os semitas como a alimentação dos deuses. O sinal divino e todas as palavras do profeta indicam que não está falando do nascimento de qualquer filho, mas de um filho divino.
Outras passagens do VT, como Daniel 7:13-14, nos mostra que o messias, além de divino, também seria filho do homem. Na Teologia de Israel a expressão “Filho do Homem” era interpretada como “povo glorificado e ideal de Israel” ou “os santos do Altíssimo”, porém, a frase “vinha como as nuvens do céu” não concorda com a interpretação coletiva. Os dois títulos, “Filho do Homem” e “Servo Sofredor”, referem-se ao Redentor que veio do povo escolhido, da nação sacerdotal. Convém lembrar que “Servo Sofredor” de Isaías 52:13-53:12 diz respeito ao sacrifício vicário, diferente de “servo sofredor” de salmos 22 e 116 que diz respeito aos inocentes que sofrem por amor ao Senhor.

XII – A VIDA FUTURA

Há, no VT, dois conceitos de escatologia. 1. Um se refere ao aperfeiçoamento futuro do reino de Deus na terra. Nasce da revelação do propósito do Senhor na escolha de Israel, e se desenvolve em relação com as atividades de Deus na história, com o entendimento da personalidade corporal de Iesrael. A modificação do conceito do Sheol acompanha o esclarecimento do ensino profético sobre a responsabilidade pessoal. É mais característico da mentalidade de Israel, e teve mais influência na Teologia do Antigo Testamento. 2. O segundo trata da vida futura do homem além da morte. Refere-se ao Sheol como a habitação de todos os mortos, e finalmente apenas o lugar da punição dos ímpios e concorda perfeitamente com o entendimento do lugar do homem individual no desenvolvimento do reino de Deus.
O israelita fiel podia aceitar estes dois conceitos. Os que tinham o conhecimento do Senhor no coração podiam trabalhar para o aperfeiçoamento do Reino de Deus, com certeza das bênçãos do Senhor. Todavia, este novo conhecimento da comunhão pessoal com Deus modificou gradualmente o ensino profético sobre a vida futura. Mesmo sabendo que havia uma vida após a morte, os Israelitas se entristeciam quando a morte estava próxima, pois criam que a personalidade sem corpo não podia mais gozar da comunhão com Deus. Depois do cativeiro, a crença na imortalidade pessoal foi se desenvolvendo, mas mesmo assim, são poucas as declarações de convicção firme e assegurada na vida feliz dos fiéis além da morte.
A doutrina da imortalidade pessoal, que se originou na experiência pessoal de comunhão de salmistas com Deus, ligou-se também com a esperança da vinda do reino messiânico que se originou antes do desenvolvimento do individualismo e da crença na imortalidade pessoal. Os justos que morreram antes da vinda do reino perfeito deviam ficar habilitados para participar das bênçãos da nova época. Isto seria conseguido pela ressurreição dos seus corpos, pois o corpo era considerado um elemento constituinte da personalidade.


CONCLUSÃO

A obra representa o esforço de apresentar as doutrinas essenciais da teologia do VT, sem entrar, senão ligeiramente, na discussão da história da religião de Israel. Enquanto a religião ficava enraizada nos ensinos teológicos dos profetas, havia sempre a tendência na prática religiosa, da parte das multidões, de desviar-se dos mais nobres ensinos dos profetas. A religião dos israelitas era mais influenciada pelas religiões dos vizinhos do que pela sua própria teologia, que se desenvolvia no esforço dos escritores de orientar o povo de acordo com o concerto de Deus com os seu povo, estabelecido em Horebe.
Os escritores declaram, com inabalável convicção, que têm conhecimento de Deus somente porque ele se lhes revelou em santidade, justiça e amor, como o eterno e único Deus, Criador de todas as coisas. Deus revelou ao homem desde a criação até o consumação dos séculos. Fez o homem a Sua imagem e semelhança, porém, abaixo da divindade. O homem é capaz de ter comunhão com Deus por causa da dessa semelhança com Ele, mas a algo que pode separá-lo do seu Criador: o pecado. Não há nada pecaminoso na natureza física ou no corpo do homem; o pecado está na vontade do homem e na sua revolta contra a vontade de Deus. Mas o homem é capaz de arrepender-se dos seus pecados e aceitar voluntariamente a salvação que Deus, no seu persistente amor lhe oferece de graça. Assim o homem pode submeter-se a ele no amor e serviço, desfrutando eternamente das ricas bênçãos desta comunhão espiritual com o seu Senhor vivo.


CRÍTICA



A Bíblia possui certas passagens de difícil interpretação. É necessário um estudo minucioso, de acordo com a época. O livro de Cabtree abre o entendimento em relação a vários assuntos obscuros do Velho Testamento. Uma dúvida muito comum é se Deus olha a nação de Israel como um todo, ou na sua individualidade. Após ler o livro, é possível entender que Deus olhava para o povo de Israel como um todo, como uma nação. No entanto,  vendo que seu povo não conseguia ser fiel em sua totalidade, mediante  sua  imensa misericórdia, e para não voltar atrás de suas palavras e promessas, a esperança foi firmada no restante fiel. Não concordei com algumas opiniões do autor, porém, como eterna estudante de Teologia, acredito ser tremendamente importante ler sobre diversas visões e opiniões de teólogos diferentes para que seja possível a maior absorção possível do que é bom, e seja possível a reflexão que levará ao um melhor entendimento.

2 comentários:

  1. ESTOU PRECISANDO DESSE LIVRO MAS NÃO ENCONTRO MAIS PARA COMPRAR É POSSÍVEL VOCÊ DIGITALIZAR E ME ENVIAR. Email: euleramos@ig.com.br.

    Deus abençoe.

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  2. Desculpe irmão, eu não tenho o livro. Ele deixou de ser editado há muitos anos. Eu peguei emprestado na biblioteca da Faculdade para fazer a resenha. Esse foi o motivo de eu publicá-la aqui, pois o conteúdo é muito bom para nos ajudar a compreender melhor a palavra de Deus.
    Abraço.
    Andréia

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